sábado, 17 de novembro de 2012

Lavras do Sul, um lugar para visitar...



























































ORIGEM E FUNDAÇÃO DA CIDADE

Lavras do Sul, a cidade, originou-se de um acampamento mineiro instalado às margens do Rio Camaquã para exploração das pepitas de ouro depositadas no leito do rio, antes disso, no entanto, há registros de que o ouro do território onde hoje é o município, foi explorado por portugueses e espanhóis.
O território do Município pertenceu inicialmente aos municípios de Rio Grande e de Rio Pardo quando a província de São Pedro possuía apenas quatro municípios ( Santo Antônio da Patrulha , Rio Grande , Rio Pardo e Porto Alegre) , depois fez parte do território de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira , com o passar do tempo passou a pertencer ao território de Caçapava e finalmente em 9 de maio de 1882 passou a categoria de Vila com o nome de Santo Antônio das Lavras, formada por territórios dos municípios de Caçapava do Sul e Bagé. Em 1938 passa à categoria de cidade com o nome de Lavras do Sul.
As disputas pelas terras conquistadas por Portugal e Espanha originaram tratados de limites como os de Madri e de Santo Ildefonso que tiveram suas linhas determinadas em documentos e posteriormente demarcadas, pois a linha do Tratado de Santo Ildefonso curiosamente faz uma curva sobre o território de nosso município, justamente sobre o distrito aurífero deste; e, as linhas dos dois tratados unem-se justamente sobre o território do município de Lavras do Sul, formando um vértice histórico.
Os jesuítas comandando um grupo de índios construíram em terras do Segundo Distrito de Lavras o Povoado de Santo Antônio, o Novo, que desapareceu por conta das guerras guaraníticas. Houve em nosso território a Batalha do Jaguary onde conquistadores e índios pereceram.
O Visconde do Serro Formoso, Francisco Pereira de Macedo, em 1865, recebeu o Imperador Dom Pedro II e sua comitiva que rumavam para Uruguaiana por ocasião da Guerra do Paraguai, em sua fazenda com uma banda composta por 60 escravos que tocaram o Hino Nacional Brasileiro. O Imperador que ia verificar a movimentação das tropas foi surpreendido pelo ato do cidadão lavrense que alforriou 50 de seus escravos para que fizessem parte do Exército Nacional, bem como quatro de seus filhos engajaram-se às tropas, forneceu ainda uma boa quantidade de cavalos crioulos para que servissem de montaria à tropa, por conta de que, recebeu do imperador o título de Barão, e depois, Visconde de Serro Formoso.
Foi pioneiro, o Visconde de Serro Formoso, na libertação de seus escravos tendo alforriado a todos em 1884, quatro anos antes da Abolição da Escravatura através da Lei Áurea.




A Casa de Cultura José Néri da Silveira foi criada pela Lei Municipal nº 1.229/91 de 10 de outubro de 1991, está instalada à rua Adão Teixeira da Silveira, no antigo prédio da Intendência Municipal todo o seu acervo é composto por doações espontâneas e por objetos, arquivos e preciosidades históricas recolhidas entre as várias repartições públicas da Prefeitura. Está instalada junto à Casa de Cultura a Biblioteca Pública Municipal Professora Annita Ferreira de Medeiros, que dispõe de um considerável acervo literário bastante procurado para pesquisas e empréstimos de livros.

A Casa de Cultura promove exposições de arte, pintura e artesanato, show de música popular, recital de música erudita. Promove ainda o ENCLAV – Encontro de lavrenses. 
A Casa de Cultura José Néri da Silveira, tem como missão registrar, preservar e expor a história da cidade de Lavras do Sul com a finalidade de promover e valorizar a identidade deste município.


 Telúrica Bar e Restaurante
Localização: Praça Licínio Cardoso
Telefone: 55-32821356


 Churrascaria Freitas
Localização: Avenida Cel. Galvão n° 19
Telefone:55-32821288


 Restaurante do C.T.G.
Localização: Avenida Cacildo Delabary s/n
Telefone: 55-32821622


 Restaurante e Bar Central
Localização: Rua Dr. Pires Porto – Nº 233
Telefone: 55-32821839



 Piracema Bar
Localização: Rua Tiradentes n° 45
Telefone: 55-32821336


 Lancheria Garajão
Localização: Rua Coronel Meza, 276
Telefone: 3282-2204



 Hotel Pousada La-Bella
Rua: Borges de Medeiros n° 94
Fone: 3282-1110 Blog:http://hotelpousadalabellalavrasdosul.blogspot.com


 Pousada Raio do Sol

Rua: Pires Porto n° 643
Fone: 3282-1039 Site: www.pousadaraiodosol.net

 Hotel Central
Rua: Pires Porto n° 233
Fone: 3282-1839

 Pousada terra do Ouro
Rua: Pires Porto n° 216
Fone: 3282-1125 E-mail:hp.terradoouro@gmail.com blog:http://hpterradoouro.blogspot.com



 Santo Antônio do Estreito

Local oferece:
aceita visitante com animais domésticos, alimentação completa, área para pesca, local para banho, pagamento com cheque, passeio a cavalo, pecuária como principal atividade, trilhas.

Localização:
Endereço: Rincão dos Saraivas
Distância Centro (km): 20
Contato:
Telefone: 55 (55) 3282-1110
E-mail: cassiolabella@hotmail.com

 São Miguel Arcanjo

Local oferece:
açudes/rios/lagos para banho(e/ou), água quente no chuveiro, café da manhã, camping, campo de futebol, churrasqueira, comercialização de produtos coloniais, cozinha coletiva, lareira, local para banho, participação na lida, quadra de vôlei, sala de reuniões, trilha de moto, trilhas, ventilador
Nos aposentos: aquecedor, televisão

Localização:
Endereço: Estrada São Domingos
Contato:
Telefone: 55 (55) 9971-5312
E-mail: aga334@agafarma.com.br


Camping
fotos
Camping Municipal Zeferino Teixeira, lugar preferido dos turistas, além da maravilhosa Praia do Paredão, banhada pelas águas do Camaquã, o camping oferece áreas de lazer como playground para crianças, espaços para acampamento, quadras de areia e cabanas equipadas com banheiro e churrasqueira. Venha passar um fim de semana em Lavras do Sul!
Valores das Diárias: Março - Dezembro
Barraca estrutural R$ 15,00
Barraca iglu R$ 10,00
Cabana grande equipada R$ 45,00 para 5 pessoas
Cabana pequena equipada R$ 35,00 2 pessoas
Cabana pequena simples R$ 30,00 2 pessoas


Valores das Diárias: Janeiro - Fevereiro
Diária Barraca tipo Iglu R$ 15,00
Diária Barraca tipo família R$ 20,00
Diária Cabana Grande com Kit Cozinha (5 pessoas) R$ 60,00
Diária Cabana Pequena com Kit Cozinha (2 pessoas) R$ 50,00
Diária Cabana Pequena (2 pessoas) R$ 45,00
Espaço Carro-Lanche R$ 40,00 por semana

RESERVA DE CABANAS

Faça sua reserva para o Verão 2010
Telefone: (55) 3282 1239
MSN: turismoemlavrasdosul@hotmail.com


Pagamentos:
Agência 0720 - Banrisul
CC: 0401060301



LENDA DA MALDIÇÃO DO PADRE
“Lavras jamais haverá de progredir”
----Corriam os tempos esquecidos da incipiente povoação de Lavras. Lá pelos idos de 1848. Poucos anos depois da construção da Capela de Santo Antônio.----Como é sabido, as primeiras famílias que para aqui acorreram aqui se fixaram em razão da exploração do ouro.----Na dita Capela, depois dos ofícios religiosos, eram realizadas reuniões comunitárias. Esse primeiro templo de fé cristã construído em Lavras, foi, também, um repositório de coisas terrenas. Por muitos moradores ele foi escolhido como um lugar seguro para a guarda de seus documentos, objetos pessoais e, por vezes, suas burras cheias de ouro e patacões de prata, visto ser aquele povo primitivo muito temente a Deus. ----Nessa antiga Capela, aos cuidados do Padre Vigário, eram então guardados os ditos valores em custódia, cuja segurança dormitava na santa paz do Senhor. ----Contavam os antigos moradores que um certo garimpeiro passou anos e anos bateiando, perseverante, nas areias e cascalhos do nosso rio, então fagueiro e dadivoso. Num certo dia, apartou uma quantidade suficiente de seus gramas de ouro e os fundiu em uma barra quadrangular de considerável peso, para, futuramente, ser partilhado o seu valor em quinhões hereditários entre os seus filhos. ----Pai amantíssimo e previdente, ele foi pedir ao Padre que guardasse ali, no silêncio da Capela, aquele seu honrado patrimônio.----Vindo ele falecer anos depois, seus filhos foram chamados pelo bom Padre, que, em tom solene, entregou-lhes a valiosa barra de ouro, cumprindo assim sua última vontade de sensato garimpeiro. ----Seus herdeiros, de imediato, encaminharam-se à casa de um ourives, já aqui estabelecido, para que ele aferisse o seu peso e a avaliasse, a fim de ser procedida a sua partilha amigável. Possuidores daquela barra de ouro, imaginavam-se donos de uma fortuna expressiva. ----Feita a competente perícia, eles descobriram o grande embuste do qual teria sido vítima o seu velho pai, pois, na realidade, a valiosa barra era de chumbo! Com o mesmo molde original, mas revestida apenas com uma fina camada de ouro, camuflagem urdida, criminosamente, para embaí-los a cair num erro, caso não fosse tomada essa ocasional providência. Cientificaram-se então, pelo ourives, de que não era maciça e seguramente havia sido trocada. ----Passaram-se alguns dias. O Padre Vigário, ouvindo em confissão o seu acólito, tornou-se reticente, respondendo com evasivas as perguntas nervosas que lhe eram feitas a respeito da estranha barra de chumbo. ----Diante do seu silêncio comprometedor, resolveram os herdeiros do malogrado garimpeiro fazer-lhe vingança e, sem demora, puseram-se a elaborar um plano. ----Colocaram dois pelegos num lombo de um burro tordilho e, chegando em frente à Capela, prenderam o esperto padre. Com um maneador sovado, ataram as suas mãos às costas e, com o restante da corda, ataram os seus pés por debaixo da barriga da sua indecorosa montaria. ----Com ele assim, feito um espantalho, montado no burro tordilho, saíram levando-o pelo cabresto, em desfile vexaminoso pela Rua Grande, a todos proclamando o seu ato criminoso. Ele, coitado, sofreu a imposição daquela pena infamante!----O povo acorreu logo. Homens e mulheres, proferindo-lhe impropérios, fizeram-lhe um cortejo memorável até o outro lado do rio.----Lá chegando, para nunca mais verem o padre, ataram uma lata cheia de pedras, pendente à cola do burro, que fugiu, espavorido, carregando no lombo o infeliz vigário.----Aquela raivosa procissão de paroquianos assistiu, do outro lado do arroio, a sua triste partida, para nunca mais. ----Foi a vingança impiedosa do povo do lugar àquele padre safado!----Sabe-se através da tradição oral, que o infeliz vigário, vendo-se afinal abandonado no meio do caminho, antes de seguir a sua viagem de exílio, teria olhado para trás, para a cidade que se descortinava ao longe, lançando este terrível prognóstico ao futuro da cidade: “Lavras jamais haverá de progredir!”----Os dias se passaram, e a expulsão do Padre haveria de se tornar motivo de chacota e zombaria e uma grave advertência a outros possíveis embusteiros que pretendessem aproveitar-se da boa fé do povo de Lavras. ----Certa manhã, duas religiosas que tinham ido rezar pra Santo Antônio encontraram, junto ao altar da Capela, uma carta endereçada ao povo da cidade. Medrosas e chilicantes, foram-se a contar, de casa em casa, o que nela havia escrito. ----Aquela população que, tempos atrás, havia ajudado a expulsar o padre, acompanhando-o em procissão pela Rua Grande, ao lembrá-lo, tão humilhado e triste, montado no burro zaino, ficou estarrecida com esta nova e espetacular revelação: a dita carta tinha sido escrita pelo antigo sacristão, que a convite do Padre, tinha aqui chegado sem ninguém saber de onde viera. Moço ainda, estranhamente ele cultivava uma vida solitária. Morava nos fundos da Capela e, meio arredio, proseava pouco e com poucos se relacionava. ----Nessa carta, deixada sobre o altar da Capela, antes de fugir, o astuto sacristão pedia que lhe perdoassem e indicava o lugar do esconderijo da verdadeira barra de ouro, única herança deixada aos seus filhos por aquele honrado garimpeiro. Contava, também, os seus pequenos furtos, jóias e mentiras há muito perdoadas. Voltaram à tona os lances dramáticos daquele dia da expulsão do padre. ----Sobrevieram as rezas, os mil perdões e as penitências frente ao altar da nova Capela, em cujo confessionário, dias antes de partir, havia o inditoso padre perdoado em confissão aquele sórdido crime do seu sagaz acólito.----Após essa derradeira revelação, todo o povoado sentiu-se culpado pelo acontecimento insólito da expulsão do vigário. Lavras, vestida de pesar, curtia a dor da ingratidão. Os seus habitantes pediam a todos os santos que a praga rogada pelo padre não recaísse sobre o futuro lugar.----Mandaram próprios a todas as estradas. Tentaram em vão, localizar o padre, buscá-lo de volta, mas dele nunca mais souberam notícias. ----Depois disso, os moradores da cidade se cruzavam pensativos pela Rua Grande, sem os costumeiros e alegres bons-dias. Havia uma geral contrariedade. ----Sobrevinda esta apatia, Lavras, irremediavelmente, ficou parada no tempo, cumprindo a sua sina de terra amaldiçoada.----Nasceram-lhe então dias cinzentos, com o frio cortante dos seus primeiros e rigorosos invernos, suas geadas grandes, que emendavam dias e dias, sem levantarem o seu lençol do campo. Anos de escassez e de colheitas magras sobrevieram, quando começaram a definhar os seus extensos parreirais e as suas árvores de fruta. Seu ouro aprofundou-se, silenciaram os seus engenhos e as companhias de mineração foram-se embora. ----A esse tempo, várias famílias, se mudaram para a capital, e as suas casas, fechadas, deixaram as suas ruas mais vazias, dando-lhe o triste aspecto de uma cidade-cemitério. ----Em Lavras, nada tinha sucesso. Latejava, em todos, vontade de ir embora...----“Que Lavras termine!” “Lavras é o fim do fim!” “Pior que Lavras só Lavras em dia de chuva!” Essas eram as frases ditas por todos os cantos do lugar. ----O inditoso Padre foi expulso da cidade e a história já esqueceu o seu nome, nem lhe descreve o rosto, tornou-se assim o protagonista da lenda mais popular de Lavras. Contaram-na os lavrenses de todas as épocas e gerações e, ainda hoje, ela é conhecida pelos jovens. ----As pessoas idosas relacionam, hoje, com amarga lembrança, o que Lavras já teve: a Banda Municipal de Música, que tocava retretas na Praça; dois cinemas e um cinematógrafo que funcionava ao lado do Petit-Salão; o Quartel do Treze, o 13° RCI; Telefonia Rural com 204km e oito estações; uma permanente expectativa de enriquecer com o ouro; estradas, as melhores do Estado; o ônibus Ford modelo-T, entre Lavras e São Sebastião, e a jardineira de Matheus Peres, levando passageiros ao Ibaré; o Sport Club 20 de Setembro, o Atlético, o Primavera, o Vasco da Gama e o Gel; as fábricas de sabão e café do Zeferino Teixeira e as botas do Ney Silveira Gomes; a salameria La Negrita de Lucas Podolski; a cantina do Luis Poglia; a laranjinha Ferreira, dos irmãos Ferreira; as azeitonas do Padre Antônio; as maçãs do Dr. Calero; as uvas do Dr. Bulcão; os jornais “Thezoura”, “A Gazeta”, “O Colibri”; os figos pingo-de-mel das chácaras do Cerrito; os marmelos e os pessegueiros que enfeitavam as cercanias da cidade; os bailes memoráveis nas casas do Seu Terto, do Seu Nagib, e da D. Adelina Tavares; os bailes do Clube, da Chita, do Trigo e da Pelúcia; os grandes Carnavais de Lavras; as lindas serenatas de estudantes...----Do que mais elas se lembram são das carretas quitandeiras, rua afora: “- Olha a moranga! A Batata-doce! Mandioca!... “Elas se iam, reluzindo suas plaquinhas da intendência , estampadas no recavém: “- Olha o frango! Lenha seca! Raiz de aroeira!”.----A malsinada praga do padre ficou tão drasticamente arraigada no inconsciente do cidadão lavrense, que em certa ocasião, quando estava sendo feita uma pintura nova na Igreja Matriz, um morador lá do Rincão dos Saraivas, com o seu pessimismo a respeito do futuro de Lavras, olhando para sua torre, ao vê-la assim toda circundada de tábuas e andaimes, teria comentado: “- Até a Igreja vão levar embora, já está toda engradada para seguir viagem!”.----Segundo velhos ensinamentos, toda a praga, após cem anos de rogada, perde os seus eflúvios e os seus prognósticos maléficos. Lavras, com certeza, hoje está livre dessa condenação do padre, desembaraçada daqueles anos de angústia. ----Sua praga inaudita, como uma pipa em frangalhos, balança desairosa no poste de uma encruzilhada. É uma lenda apenas.----O nosso município tem hoje modificado o seu destino, experimenta, efetivamente, lances notáveis de melhoria e progresso.

Referência Bibliográfica:
Teixeira, Edilberto. Lenda da Maldição do Padre. In: Lavras na Bateia do Tempo. 1992, p. 473 – 477.


Lendas
Lenda do Túmulo da Cigana
“a santa predileta dos humildes”
----Lá pelos idos de 1920, logo após a construção do novo cemitério, um bando de ciganos acampou nos arredores de Lavras.----Esse povo errante, de vida incerta, espalhando-se por todo o mundo, vive, ainda hoje, exercendo os seus vários mistérios e vivendo de seus pequenos expedientes. ----De origem indiana, há muitos e muitos anos, eles cruzam as estradas, boêmios da própria sorte.----Desta feita, acampados do outro lado do arroio, no depois chamado Bairro Militar, alçaram os seus toldos e invadiram as ruas da cidade, oferecendo os seus tradicionais tachos de bronze, suas figas protetoras, brincos, anéis e colares multicores. ----As ciganas mais velhas, mal-enjorcadas e com suas saias e sobre-saias andrajosas, davam-se a interceptar os incautos e a saber deles se queriam ver “la suerte”. E seguiam pelas ruas a cambiarem os seus relógios e a oferecerem a sua variedade de quinquilharias. ----Cruzavam as nossas ruas em bandos alegres, tagarelas, batendo nas portas, xingando os moleques. ----Apartadas do bando, andavam outras ciganas mais moças e mais vistosas. Iam logo atrás, com seus colares e pingentes chamativos, de um rude artesanato, enfeitando aquela estranha comitiva. ----Mais asseadas e risonhas, elas chamavam a atenção dos populares quando passavam pelas esquinas da cidade. ----Uma delas, uma ciganinha de olhos claros, bonita e singela como uma flor do campo, foi logo apontada e cobiçada pelos moços desairosos, que a seguiam, espreitando-a como uma perdiz na moita. ----Alvo de seus olhares indiscretos, que a deixavam enrubescida, ela sorria, sorria ingênua e vaidosa, ressaltando mais o seu encanto de cigana. ----O povo de Lavras, calmo e hospitaleiro, com o passar dos dias, experimentou uma certa convivência amistosa com o singular bando de ciganos. ----Gostaram do lugar. Foi a resposta dada pelo chefe do bando para jusfiticar aquela permanência que se prolongava. Era um homem já de meia-idade, alegre e muito dado a prosa. ----Com a mesma espontaneidade com que eles invadiram as ruas de Lavras, o povo também foi visitar seu acampamento lá no outro lado do arroio.----Nos finais de tarde, ao redor da sua toldaria, a molecada se recreava com o inusitado. Alguns puxavam assunto com eles só para ouví-los, com a sua prosa arrevesada.----Também os tais moços galanteadores, de mansinho, foram se achegando por lá, à espreita da bela ciganinha debutante e de olhos claros e risonhos.----Dela, somente dela, eles compravam todo o tipo de quinquilharia e sem barganharem o preço. Ela, sempre sorridente e ingênua, parecia feliz com aquele assédio permanente por todos os lugares onde andava. ----Um deles, mais afoito, chamando-a para um local ermo, longe da cigana velha, aventurou-se a lhe comprar um beijo. E a ciganinha estulta, num ato próprio de sua ciganice, acedeu e lhe vendeu aquele gesto puro por um alto dinheiro. ----Certo dia, espalhou-se, rapidamente, pela cidade a notícia do casamento de dois jovens ciganos, notícia que entibiou o entusiasmo da rapaziada galante, ao saberem que a noiva era justamente aquela que vendia beijos, a linda ciganinha de olhos claros, asseada, de tranças reluzentes e saias coloridas. ----Um dos moços, nesse dia, afastou-se da cidade sem motivo justificado. ----O poviléu, curioso, dirigiu-se para o outro lado do rio para assistir ao tão comentado casamento. ----Do lado de fora das barracas, muita gente, acotovelando-se, espiou o movimentado baile ali realizado. Sem participar dele, a excitada platéia deliciou-se com o que via: os ciganos dançando de chapéu, uma gaita e uma rabeca executando ritmos estranhos, farta comilança e o vinho, sem parar, distrinuído em jarras coletivas. ----Ali permaneceu aquela gente curiosa até altas horas, quando, afinal, o sereno frio da madrugada forçou-a a ir embora para as suas casas. ----No outro dia, cedo, envolveu-se a polícia com o aflito bando de ciganos:
- A noiva estava morta!
- De morte natural – constatou a autoridade.
----Tão dada e tão alegre! ... Sua morte consternou a nossa pequena urbs. E os motivos reais do desenlace a fantasia popular enriqueceu.
- Foi assassinada pelo noivo! Forçada a se casar, vendida a ele, suicidou-se!
----Ninguém ficou sabendo afinal o exato motivo daquela repentina e estranha morte. ----Várias outras causas, as mais fantasiosas, foram alvo da adivinhação dos habitantes de Lavras...----O chefe do bando pediu licença ao Intendente para sepultá-la no cemitério da municipalidade. Construíram ali o hoje chamado “túmulo da cigana”, prestaram-lhe suas últimas homenagens, levantaram acampamento e foram-se embora. Mas deixaram em Lavras o mistério daquela linda flor do campo, morta na primeira noite de suas bodas de mel. ----Tempos depois, alguém versado nos códigos da honra dos ciganos objetivou que, entre eles, ao noivo é permitido matar sua consorte caso ela não seja mais virgem. ----Daí restou, em última análise deste axioma evidente, a causa determinante daquela inesperada tragédia que despertou piedade e horror no meio da nossa justiça. ----Os anos se passaram e esse sentimento, enraizado na alma dos humildes, numa consequente devoção, revelou-se, sublimado, entre muitos adeptos. A infeliz cigana, canonizada pelo povo, tornou-se a sua santa predileta. ----Quem visita o nosso cemitério, assomando ao portão, logo à direita, depara-se com o chamado “túmulo da cigana”. À sua cabeceira, vê-se uma imagem de mulher, grosseiramente esculpida na argamassa. Está de pé, com o rosto inclinado a insinuar-lhe uma auréola de santa e de mártir. Seu corpo, naturalmente, está ali, coberto por uma lápide, dormindo no chão do cemitério. É um jazido único, exposto a céu aberto, que está, permanentemente, enfeitado com flores, fitas coloridas, garrafas de vinho e toda sorte de oferendas. Muitas vezes sua imagem se mostra com um rosário circundando-lhe os ombros. ----Sua estatueta, de porte médio, é um monumento singular de fé cristã, onde o povo humilde vem pedir graças e pagar promessas, razões emocionais do sofrimento. ----O “túmulo da cigana”, daquela que foi morta por não mais ser virgem, é hoje, em Lavras, a vereda sentimental dos que creem no poder divino ou daqueles que, um dia, também foram injustamente sacrificados.----Existem dois pedidos, os mais celebrados, aos quais a cigana jamais deixa de atender: o das mulheres que são vítimas de seus maridos alcoolistas e o dos homens privados de sua antiga virilidade. São dois pedidos caros, e estigmatizados por um ritual inculto e obsceno. ----Notadamente, às vezes, sobre sua lápide e ao seu redor, há um cheiro forte de cachaça e urina. A primeira, derramada por tais mulheres quando a invocar-lhe graças e premonições de enjôo à bebida. E a segunda, por tais homens, quando, de maneira explícita, suplicam-lhe forças que se desvaneceram. ----A cigana dos aflitos, com o poder e a magia da crença, devolve àquelas e a estes a paz conjugal e o vigor indispensável para procriar. E, assim, com a sua missão popular de servir e proteger, ela apaga vícios e acende falos.Narrativa de Edilberto Teixeira, sobre a lenda do Túmulo da Cigana, no seu livro Lavras do Sul na Bateia do Tempo, nas páginas 486 a 490. Este texto foi transcrito por Fernanda Ricalde Teixeira, turismóloga e incentivadora da preservação cultural de Lavras do Sul. 









3 comentários:

  1. Parabéns Dado, um bageense falando sobre Lavras. Parabéns pela iniciativa. Fica meu abraço e reconhecimento pelo teu trabalho. Um fraterno abraço. Luís Severo

    ResponderExcluir
  2. Não me custa nada falar de um lugar que realmente gosto, e muito. Grande abraço Luís Severo.

    ResponderExcluir